PARTE 1
Antes de adormecer pensei: "Ia ser tão bom acordar com 60 anos, jovem e cheio de vida".
Acordei. Fui fazer meu cooper na Beira-Mar, na volta comprei pães para meus sobrinhos-netos, tomei o café da manhã com eles, fui deixá-los na escola.
O dia correu como sempre. Nada diferente.
À tarde, fui buscar meus sobrinhos-netos na escola. Antes de chegar em casa, meu netbook toca no bolso da camisa. Era meu sobrinho, dizendo que chegaria hoje e pedindo-me para buscá-lo no aeroporto.
Fui buscá-lo.
Lá chegando, ele me diz: "Achou que eu esqueceria seu aniversário de sessenta anos? Parabéns, tio!" e me entrega meu presente: Um estúdio virtual de bolso, de 128 canais.
Cantaram parabéns, comemos bolo, nos confraternizamos. E fomos dormir.
Antes de adormecer pensei: "Ia ser tão bom acordar com 40 anos, jovem e cheio de vida".
Acordei. Fui fazer meu cooper na Beira-Mar, na volta comprei pães para meu sobrinho, tomei o café com ele, fui deixá-lo na escola.
O dia correu como sempre. Nada diferente.
À tarde, fui buscar meu sobrinho na escola. Antes de chegar em casa, meu celular toca no bolso da camisa. Era minha irmã, dizendo que chegaria hoje e pedindo-me para buscá-la no aeroporto.
Fui buscá-la.
Lá chegando, ela me diz: "Achou que eu esqueceria seu aniversário de quarenta anos? Parabéns, meu irmão!" e me entrega meu presente: Um Supercomputador portátil, da Tesla Corp.
Cantaram parabéns, comemos bolo, nos confraternizamos. Fomos dormir.
E, antes de adormecer, ainda pensei: "Ia ser tão bom acordar com 20 anos, jovem e cheio de vida".
Acordei. Tomei o café da manhã rápido, saio correndo para pegar o ônibus, entro no ônibus, sento.
O dia correu como sempre. Nada diferente.
À tarde, peguei o ônibus de volta para casa. Tudo ia bem até que uma freada brusca me acorda. Quando notei estava caido, semi-consciente. Escutei gritos e gemidos cada vez mais distantes. Via as imagens cada vez mais turvas...
Acordo de sopetão. Assustado pacas. Sem entender nada.
Sentada, ao meu lado, uma linda senhorinha sorridente me acalma.
A simples presença dela me acalma.
Ela começa a me explicar sobre percepções da realidade, sobre como as informações que recebemos modelam as referidas percepções.
E eu perguntei:
- Como assim "Tudo o que vemos, ou percebemos, é um sonho dentro de outro sonho"?
Antes que ela me respondesse, acordei.
Não tinha ônibus, não tinha gritos nem gemidos: Sò eu, em meu quarto. O meu quarto de sempre. Que eu não reconhecia, mas que era o meu quarto de sempre.
PARTE 2
Passei dias e dias sem compreender aquilo.
Terá sido sonho? Terá sido "um sonho dentro de outro sonho"?
Passei a perceber mais as interconexões neurais que nos levam a crer numa realidade implantada por informações deturpadas.
Passei a perceber mais e mais que somos aquilo o que imaginamos ser.
Passei a pesquisar sobre o impacto da percepção de mundo como criação de nossas realidades.
Antes que eu entendesse, acordei.
No meu velho e conhecido quarto. Na minha rotineira vida de sempre...
2 comentários:
Como já diria Freud, a realidade é uma ficção, criada pelo sujeito, para lidar com o inapreensível da realidade.
Já assistiu "Waking Life"? na 1ª vez ele é totalmente non-sense, mas depois vc vai associando as coisas.
Abraço!
que bonito!! fiquei um pouco triste, mas acho que é porque já ando um pouco assim, ando pensando muito na vida e em uma maneira de realmente vivê-la e esse post veio de encontro com isso, as vezes falta tempo e as vezes o tempo passa rápido demais e será que eu realmente soube valorizar e aproveitar tudo o que podia? será que estive realmente acordada? será que fiz tudo que podia e deveria?
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